Um conto de fadas?
Talvez sim, talvez não.
O fato é que… Esse conto não tem um final feliz.
A história do mundo sujo que vivemos, e que hoje
diminuiu, mas ainda há a poluição do preconceito.
Dois corações que formam uma só alma, um só
espírito... Um amor proibido.
Ela morava do outro lado da cidade.
Eu ficava ansiosa para vê-la todos os dias, poder
abraçá-la, beijá-la, tocá-la...
Mas tínhamos que nos esconder, nossos pais nos
matariam se nos vissem de mão dadas ou algo do
tipo.
Ela morava num enorme castelo, ao menos, para mim
era muito aconchegante.
Eu a visitava e era conhecida por seus pais como
apenas sua amiga.
Ela me mostrava seu enorme castelo, e eu me perdia,
mas, ao mesmo tempo, me encantava ao ouvir sua
voz, dando-me explicação e guiando-me.
Todas as noites, quando eu não estava com ela, ou
era pega de surpresa por sua visita nas madrugadas,
ou dormia feliz, sabendo que no dia seguinte iria
vê-la.
Colocávamos travesseiros por de baixo das cobertas,
fazendo com que a desconfiança de nossos pais
abaixasse.
Saímos em direção à floresta e passávamos o tempo
lá.
Muito tempo...
Trocávamos cartas, bilhetes, presentes...
Até que uma vez eu acordei tão convencida de que a
veria que não a vi.
Ela havia me deixado uma carta, e nela continha;
“Bem, acabo de receber a notícia de que terei que
viajar com meus pais à negócios.
Que triste, queria passar minha tarde com você,
novamente, meu amor.
Eu não quis te acordar, que fique claro, pois estavas
tão linda dormindo. Eu acariciava-te e sorria.
Tu és linda até quando dormes.
Segurei tuas mãos, por bastante tempo, até cheguei a
ler a carta para você...
Não sei quando voltarei, mas, creio que será logo.
Durante minha ausência, quero que cuide-se e que
fique bem.
E saibas que lhe amo muito.
P.S:
Você sabe quem.”
Eu fiquei um pouco desanimada, mas, ela iria voltar
logo, isso que importava.
Tive uma tarde entediante, fui à floresta, peguei
gravetos e os tocava na água, sem sentido, sem ter
um por quê.
Pude ver o reflexo de seu rosto na água...
Pude sentir seu toque, mas ela não estava ali.
Duas semanas depois...
Ela volta, marca de se encontrar comigo.
Eu a vi, fiquei feliz, passamos aquele fim de tarde
juntas, depois, eu iria levá-la de volta para seu
grande castelo.
Beijávamos-nos com voracidade.
Sua boca era irresistível, eu confesso.
Mas, seus pais viram.
Não falaram nada, nem sequer os vimos.
Mas o desgosto de seu pai estava claro em sua face,
segundo o narrador.
E sua mãe ficou em choque, novamente, segundo o
narrador.
Saíram dali, e esperaram sua filha voltar pra casa.
Ela levou uma bronca muito grande.
Ficou proibida de ver-me.
Sem cartas, sem olhares, sem bilhetes, sem
presentes, sem contato algum.
Lembro-me, pois ela colocou na última carta, mas
contou poucas coisas, então, eu não sabia
exatamente o porquê ela havia se afastado de mim,
mas enfim...
Um castigo injusto, minha amada levou.
Como não gosto de injustiça, ainda mais com quem
amo, compareci ao seu castelo, mesmo sem saber o
porquê.
Perdi-me, esbarrei-me num guarda com olhos
arregalados, eu apenas sorri, adorava senso de
humor nessas horas.
Ele só me olhou com uma cara de rejeição, eu segui.
E ele também.
Fiz caretas pra ele, enquanto estava de costas.
Ele olhou pra mim, e eu, rápidamente, me virei e fui
andando, dando passos muito rápidos.
Cheguei ao imenso portão e perguntei por minha
amada.
Perguntaram-me quem era, e eu respondi...
E minutos depois, disseram-me que eu não poderia
mais falar com ela.
Eu fiquei pensando o porquê ela não queria mais me
ver, se ela havia encontrando outra ou um outro
alguém.
Saí dali, mas com esperanças, não sei por quê.
Ficou assim por dias...
Eu sempre ia lá, e voltava sem a resposta.
Até que cinco meses depois, não agüentava-me de
saudade.
Depois de mais dois dias, resolvi tentar novamente,
mas dessa vez, nem que eu fizesse um escândalo...
Enfim.
Eu decidi voltar lá e saber o que estava se passando.
Eu a vi, ela veio correndo em minha direção, mas os
guardas colocaram suas espadas formando assim,
uma barreira entre nós duas.
Ela conseguiu segurar minha mão forte, e disse-me:
“Eles sabem, e foi por isso que não posso mais falar
com você.
Tentei lhe avisar, mas, as cartas também foram
descobertas.”
Depois, seus pais chegaram e mandaram colocar-me
pra fora do enorme castelo.
Eu tentei resistir, mas não consegui.
E eu tentava toda vez voltar, chamar-lhes a atenção,
mas nada acontecia.
Fingiam-se de cegos, sem coração, sem alma.
Eu não acredito nisso.
Sei que no fundo sabiam que o que sentíamos uma
pela outra era verdadeiro.
Quanto mais eu tentava, mais eu falhava.
Mais meses se passaram e soube que seus pais
receberam uma oferta para se mudar para um lugar
maior.
Não creio que necessitavam de um castelo maior, pois
se fosse, que comprassem o mundo para viver, se
bem que já o tinham.
Acredito que encontraram mais uma maneira de
afastar nós duas, e conseguiram.
Meu coração estava partido.
A pessoa que eu mais contava no mundo, que eu
mais amava, que eu mais precisava... Partiu pra longe
de mim.
Sem culpas, ressalto.
Se bem que, não posso mais tentar, não sou dona do
mundo, se ao menos tivesse dinheiro para viajar.
Meus pais tiraram-me tudo que eu tinha. Eu não tinha
nada, em todos os sentidos.
Com o tempo eu fui recuperando, mas algo que não
vou ter de volta... Ela.
Até seu coração, que agora, pudera ser de outro
qualquer, ou outra, mas que continua não sendo um
'eu'.
Eu tentei.
[...]